Saturday, November 13, 2010

Corujice?



Dizem que a mãe ser fã do filho é a mais desavergonhada manifestação de corujice!
No meu caso, estou certa de que posso manter um julgamento isento de pieguice e sentimentos fofos - Gabriel é um excelente músico e ponto.
Dono de grande musicalidade e ecletismo, consegue tocar em bandas com diferentes repertórios e ideologias, sendo que a maioria dos músicos fica represado num estilo. Não questiono aqui um ou outro, apenas considero a independência uma qualidade.
Além de baterista, toca contrabaixo e canta e acredito que se quiser experimentar outros instrumentos, consiga se dar bem, porque é bastante focado naquilo que persegue - e a música é o foco central da sua vida.
Lembro que quando ainda era um pivete, me passou uma fita com uma gravação onde tocava bateria e depois de ouvi-la duas ou três vezes, duvidei que fosse ele, achei que fosse uma brincadeira... não acreditei que aquele "projeto de gente" estivesse tocando como um adulto experiente! Parecia muito com o jeito do pai dele tocar e, certamente, deve ter havido bastante influência.
Foram muitos anos, muitas bandas, muita andança pra lá e pra cá, muitos shows assistidos apenas pelos amigos de fé (coisa comum em Porto Alegre...). Até que um dia surgiu uma possibilidade de voar mais longe, de buscar experiência diferenciada, longe do ninho.
Acho que esse é o principal ganho obtido quando se viaja para o estrangeiro: ficar longe do contato com a zona de conforto e aprender com o salto no escuro.
Como amiga (mais do que como mãe) fico feliz que ele tenha conseguido adicionar essa experiência à sua carreira. Atuando com a banda Organi'c, de São Paulo, na companhia de músicos talentosos, a viagem para o Leste europeu é uma bagagem de peso.

Tá bom, muitos leitores desse post devem estar emitindo pequenos sorrisos complacentes sobre o teor do meu texto, mas posso sobreviver a isso... hehe... coloco o trabalho de Gabriel Mohr no mesmo nível do trabalho de outros músicos que aqui citei e apreciei.
Que culpa tenho se ele também é meu filho... agora, o sorriso fica por minha conta.

Quem quiser conferir, assista aos videos:

Monday, November 8, 2010

Ana Mazzotti

Quem foi músico no RS, na década de 70, certamente conheceu o talento de Ana Mazzotti, cantora, instrumentista e compositora. Nascida em Caxias do Sul, vivendo muito tempo em Bento Gonçalves, foi líder do Conjunto Desenvolvimento (uns dizem que a grafia correta era Desenvolvymento) que animava bailes pelo Estado, ao lado do marido, o baterista Romildo. Os fãs também devem lembrar dessa preciosidade.
Eu estava começando a cantar em um conjunto e ouvia todos os músicos falarem do talento dela: era um modelo para cantoras iniciantes, timidamente despontando nos palcos de Porto Alegre...
Infelizmente, foi pro andar de cima muito cedo (em 1988, no auge da caminhada) e seu trabalho ficou resumido na gravação de 2 LPs - o Ana Mazzoti e Ana Mazzoti Ao Vivo - Festival de Verão do Guarujá 82.
Compôs música para Chick Corea, que a convidou para uma turnê pelos EUA; infelizmente não pode realizar essa viagem, pois faleceu: Grand Chick - maravilha que pode ser vista e ouvida nesse registro do youtube.




Depois de assisti-lo, acho que pode ser comprovado o seu potencial - voz incrível (lembra a sonoridade da voz de Elis), domínio do piano, balanço, jazz e pulsação.
Se aqui estivesse agora, certamente, seria uma estrela!

Tuesday, August 17, 2010

O Fim - Parte II


Marcado um ensaio no estúdio de gravações do tecladista Zé Vidal, fui direto e inocentemente ao ninho de cobras, sem levar soro antiofídico no bolso.
Cheguei de bom humor, cumprimentando efusivamente a todos e como não carregava nenhuma culpa dentro de mim, não percebi a atmosfera carregada da sala.
Sentamos e quando o silêncio se instalou, o Zé disparou:
- Voto pela saída da Kazu e do Juca. Ela, porque trouxe a polícia ao nosso encontro e poderíamos ter perdido todo o equipamento e ele porque recomendou o ônibus para o conjunto.
Fiquei meio tonta, sem entender muito bem o que estava acontecendo.
O Raul se juntou às acusações feitas pelo tecladista (os acusadores eram, justamente, os dois músicos que ficaram segurando a barra no veículo enquanto seus colegas caíam fora).
- Ela instigou o irmão para que o ônibus e o motorista fossem multados.
- Ela não deveria ter ido embora, deveria ter aguentado com todo o grupo! (E quanto aos outros que foram junto, porque também não estão sendo expulsos como cães sarnentos, pensava...) Não entendia o que tinha feito de errado.
Simplesmente, pedi uma carona ao meu irmão que estava a duas quadras de distância do pesadelo que vivíamos na estrada e acabei ajudando a quase todos que também queriam escapar.
O motorista tinha que ser punido mesmo, porque trafegar com aquele monstrengo sobre quatro rodas era um perigo que afetava não só a quem estava dentro dele, mas a todo e qualquer ser vivo nas suas proximidades.
Se o Juca indicou esse motorista, o manda chuva Raul aceitou a recomendação, certamente porque o preço devia estar bem abaixo da tabela, ou seja, houve conivência.
Enfim, os bodes expiatórios foram escolhidos e devidamente sacrificados, sem direito à defesa e sendo acusados por todos os "companheiros". Um deles, covardemente, nem compareceu à reunião.
O que mais me magoou foi a total ausência de apoio de qualquer um dos elementos, inclusive do "dono" do conjunto, Norberto Baldauf, que só ficava olhando para o chão, em silêncio (quem cala, consente).
Foram momentos aterrorizantes, como aqueles que vivemos em pesadelos e queremos acordar para fugir, mas ali era a realidade que se manifestava.
Nada do que disse conseguiu modificar a sentença que já estava definida: rua, agora!
Sem direito a nada que não fosse tomar a direção da porta.
O que mais doía era a constatação de que vivi uma mentira.
Talvez os músicos que já haviam falecido tivessem me apoiado, como o Canela ou o Touguinha (isso como simples conjectura, visto que não dá para avaliar como cada ser humano agirá em determinada situação).
Vendo que mais nada havia a ser dito, fui embora. Enquanto esperava o elevador, percebi que havia esquecido minha sombrinha. Voltei para pegá-la e nesse instante, Norberto também ia saindo e tivemos que descer usando o mesmo elevador. Ele continuava procurando alguma coisa na ponta dos sapatos, olhando firmemente para o chão, visivelmente embaraçado. Que despedida, depois de quase 25 anos de convivência...
Os dias que se seguiram foram deprimentes, não porque não fosse mais trabalhar com eles (nossa atuação diminuía de qualidade a passos largos e suportar determinadas deficiências de alguns músicos estava se tornando um fardo enorme) mas pela maneira como fui tratada. Ainda agora, enquanto escrevo, sinto mágoa e ressentimento e por isso mesmo faço isso, como forma de, finalmente, me desatrelar desse triste episódio e de todas as pessoas envolvidas.
Muitos me aconselharam a colocar o caso em processo judicial, inclusive advogados da Ordem dos Músicos, mas não seria o dinheiro que aliviaria a pressão dolorosa que sufocava a livre circulação de energias no meu corpo e na minha alma - precisaria bem mais do que pedaços de papel!

Perdi a vontade de cantar em público.
Perdi o desejo de conviver com músicos.
Ganhei um pouco mais de conhecimento sobre a natureza humana.

Monday, August 16, 2010

O Fim - Parte I

Pois é, depois de conviver com o grupo por quase 25 anos, achando que estava entre companheiros de jornada, descobri que eram piores que inimigos: eram falsos amigos!
Os dois tópicos a seguir irão servir como catarse, pois após escrevê-los, não quero mais pensar nem falar a respeito da minha injusta e ridícula saída do Conjunto Melódico Norberto Baldauf.
Aconteceu há uns 3 anos.
Íamos tocar numa cidade do interior, o que nos levaria a viajar por umas cinco horas, no mínimo. Saímos no início da tarde de um dia chuvoso. Quando enxerguei o ônibus no qual faríamos a viagem, levei um susto! Era quase um monte de sucata, velho e sujo e naquele momento, tive certeza de que estávamos em decadência...
Subi e procurei um lugar, o interior fedia e quando fui por a mala no bagageiro, minha mão encontrou uma casca podre de banana, ali esquecida há muito! Começamos a viagem, após muita reclamação em uníssono, mas como não havia nada que pudesse ser feito para mudar a situação, seguimos adiante. Logo descobrimos que o veículo não tinha limpador de pára brisas, o que, praticamente, impedia o motorista de enxergar a estrada - a chuva estava forte. Pior foi descobrir, em seguida, que os freios não estavam funcionando perfeitamente!
A viagem durou horas porque não podíamos andar rápido devido ao mau funcionamento dos freios e todos estavam nervosos porque já deveríamos estar no clube, montando o equipamento - sem contar o medo e a ansiedade pela possibilidade de acontecer um acidente a qualquer momento.
Depois de muito estresse, conseguimos chegar ao nosso destino, bastante atrasados.
O baile foi um sucesso, apesar de tudo, e ficamos prontos para a volta ao raiar do dia.
Mas, em seguida, fomos obrigados a parar na beira da estrada, em frente a um bar perdido no nada, aguardando um mecânico para consertar os freios. Parecia que o ônibus iria desintegrar-se a qualquer momento (e nós, junto com ele). Cansaço, fome (o bar tinha 2 ou 3 opções intragáveis de alimentação), mais ansiedade, inclusive dos parentes que ligavam para saber o porquê da demora.
Horas mais tarde, após um conserto provisório naquela carcaça, continuamos, doidos para chegar em casa, tomar um banho, comer, enfim, sermos tratados como gente.
Quando estávamos perto do final da viagem, o trambolho estragou outra vez, era noite e ficamos estacionados, de novo, no meio do nada, podendo até sofrer um assalto. Passava o tempo e nada acontecia, todos estavam tão cansados que não conseguiam tomar uma atitude prática ou que resolvesse o problema.
Então, percebi que estávamos próximos ao Posto da Polícia Rodoviária onde meu irmão trabalhava. Liguei para ele, que já tinha conhecimento da catástrofe pela qual eu passava e, prontamente, veio me ajudar a sair dali. Quando o carro chegou para me apanhar, todos os meus colegas saltaram fora do ônibus querendo também uma carona - foi um corre-corre de malas e sacolas, desesperados porque a garagem onde deixaram seus carros iria fechar a qualquer momento e ficariam sem eles.
No carro, todo mundo reclamou do ônibus e da irresponsabilidade do motorista (ou seria mais correto, de quem o contratou?). Mas aliviados porque logo estariam dentro de seus automóveis, indo para o aconchego do lar, deixando aquela terrível experiência para trás.
Naquele momento, todos pareciam extremamente agradecidos a mim e a meu irmão, pela oportunidade de sair do meio da estrada a tempo. A não ser, os dois músicos que tiveram que ficar no ônibus, para tomar conta do equipamento.
Justamente, os dois que me crucificaram no dia seguinte. Casualidade ou vingança?

Saibam, em breve...

Thursday, June 17, 2010

O pedestal do microfone

Um amigo do facebook postou uma foto de Steven Tyler fazendo acrobacias com o pedestal do seu microfone e comentei que essa relação estreita entre os dois - cantor e pedestal - merecia um estudo aprofundado. O autor da foto sugeriu que "o pedestal é o membro". Acho que é bem mais do que isso, vai além...
O pedestal serve ao vocalista como apoio, descanso, disfarce para a timidez, acessório vital na exibição, parceiro, escravo e o que mais possamos imaginar vendo nossos ídolos agarrados a esse pedaço de metal enquanto fazem o espetáculo que nos emociona.

Seguem imagens que refletem essa ligação bastante comum no meio artístico - algumas dessas performances já são clássicas.

O vocalista da banda Aerosmith, Steven Tyler, parou no hospital após cair durante uma apresentação. A causa? Dançando muito, fez várias performances com o pedestal: pôs no chão, girou em volta dele e pisou fora do palco...


Rihanna, com a língua roxa e um pedestal cheio de estilo!

Tobias Sammet e Jorn Lande, no show Avantasia - sentiu o peso do diabólico metal?

Blackie Lawless, do WASP - pedestal apocalíptico... hasta la vista, baby!

Shakira faz performance sensual com seu pedestal - nesse caso, posso concordar com a definição do meu amigo...

Jonathan Davis, do Korn, usa um pedestal que não dá para rotular como discreto.

Joss Stone pendura nele, um lenço em tons de roxo, hábito que traz desde o início da carreira.

Iggy Pop também já tornou clássicas suas evoluções aeróbicas com o pedestal.

O tradicional giro de pedestal de microfone de Paul Rodgers, do Queen.


Lady Gaga: com um piano pegando fogo no palco, ela destruiu uma parede de vidro com o pedestal do microfone e quebrou garrafas - violenta, a garota!

E pra encerrar essa primeira mostra (yes, haverão outras!), Ele, o Rei Roberto Carlos, que passa agarradinho ao pedestal 99% do desenrolar de seus shows. RC aparece aqui em duas fotos, afinal, a realeza tem mais diretos do que os simples mortais...




Wednesday, January 6, 2010

Ave-Maria do Morro

A minissérie Dalva e Herivelto está ajudando a desenterrar clássicos esquecidos da música brasileira, como Ave-Maria do Morro, de autoria de Herivelto Martins e interpretada por Dalva de Oliveira.
Que bela música e que bela interpretação - um coração sensível não pode deixar de emocionar-se ao ouvi-la...
Destaque também para a sensacional interpretação da atriz Adriana Esteves no papel de cantora - ela realmente encarnou a personagem. Quando a cena for para o youtube, vou colocar aqui; por enquanto, fica apenas o áudio original com a imagem estática de Dalva.


Monday, January 4, 2010

Dalva e Herivelto

A autora da minissérie diz que muito da história é ficção.
Mas o importante mesmo é mostrar ao Brasil a sua música, a sua cultura, o seu passado, pois somos um país sem memória.
Qualquer iniciativa no sentido de expor ao povo brasileiro seus valores, é bem-vinda!
Provavelmente, muitos estão conhecendo a bela voz de Dalva de Oliveira a partir desse trabalho televisivo - os transtornos conjugais do casal são apenas pano de fundo para que a obra do compositor e da cantora seja divulgada em todo o território nacional.
Vivaaaaa!!!!